Quem possui poder é aquele que produz, não aquele que consome

Àbáyọ̀mí Rametj
2 min readOct 7, 2023

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Esse entendimento deveria ser básico para qualquer povo que diz querer se “emponderar”. Ao invés disso, o povo preto é muito conhecido por gostar de luxos, quase sempre quando ascende financeiramente. Marcus Garvey já havia observado isso na população Negra dos EUA.

Garvey destaca que durante a Primeira Guerra, houve muitas oportunidades de emprego para o Negro estadunidense, com bons salários, mas os brancos pagaram esse dinheiro de má vontade e que, quando a população Negra gastou tudo que recebeu com futilidades e a crise chegou, os Negros pouco tinham contribuído para sua comunidade e foram os que mais sofreram com a recessão.

Aqui no Brasil, também é possível perceber como a agricultura familiar, que sustentou nossas comunidades por gerações, vem ao longo das décadas sendo deixada de lado para migrar para centros urbanos, tornando-se empregados de brancos e, eventualmente, vendendo o patrimônio da família: a terra.

Tanto em nossas comunidades quilombolas, quanto na filosofia e prática de Garvey, é destacada a importância da produção. Quem produz é quem manda, quem produz é quem detêm o poder sobre quem consome, não o contrário. E aquela máxima de “o mercado se molda ao consumidor” se torna pura balela quando consideramos o poder do marketing de induzir nossas vontades e consumo.

Garvey considerava a autossuficiência econômica como base para o desenvolvimento político e social de um povo. Dizia: “deixe que (Thomas) Edison desligue sua luz elétrica e estaremos na escuridão do Liberty Hall em dois minutos. O Negro está vivendo de bens emprestados.”

Sendo assim, Garvey e a UNIA investiram em uma série de empreendimentos. Dentre os quais: uma companhia de navios, a famosa Black Star Line, lavanderias, chapelarias, restaurantes, supermercados, hotéis, alfaiataria, fábrica de bonecas, imprensa e estamparia.

Autonomia não se faz com dinheiro dos outros.

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Àbáyọ̀mí Rametj

Um ser em desenvolvimento, trilhando caminhos através da espiritualidade, da capoeira e dos algoritmos. O àṣẹ de Ògún guia a criação de tecnologias