A busca pela boa vida

Àbáyọ̀mí Rametj
2 min readDec 29, 2023

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As últimas semanas do ano sempre são muito reflexivas, pelo menos para mim. Gosto de pensar no que se passou e no que quero ou imagino que possa vir nos próximos 12 meses. O que aconteceu de bom, o que aconteceu de ruim, no que evoluí, o que aprendi.

Fazem 6 anos desde que escrevi pela primeira vez sobre isso, 3 anos desde que publiquei o texto. É engraçado ver que a gente pode mudar e evoluir o quanto for, mas sempre tem um fundamento nosso, um alicerce, uma estrutura que sempre tá ali. No final de 2017 aquele texto me descrevia, no final de 2019 também, e continua me descrevendo no final de 2023.

Mas não é sobre nada disso que quero falar hoje.

Há algum tempo joguei os búzios, os quais me mostraram muita fartura e prosperidade. Nada disso sem esforço, claro. Indicaram que se eu percorresse os caminhos corretamente, seria bem recompensado e que as coisas dariam certo para mim.

Prosperidade é algo que todos desejamos e sempre corremos atrás.

Acontece que nem sempre a tal prosperidade é o que fomos levados a acreditar e, em uma das minhas reflexões de fim de ano, me deparei com dicas de finanças pessoais e também com conceitos africanos de prosperidade.

Não adianta acumular riquezas e dinheiro por acumular, números maiores e maiores em sua conta se tudo isso é pago, ironicamente, com a sua felicidade.

Coisa que meus pais sempre me ensinaram: “Não gaste sue dinheiro à toa, mas não passe vontade. Senão quando estiver velho, vai ter vontade de fazer e ter o que você queria quando jovem, mas a falta de saúde não vai permitir”.

Para os Iorubás, a prosperidade e a busca pela boa vida, passam necessariamente pelo bom caráter. De nada adianta riqueza e moedas se não se tem o respeito e admiração da comunidade em que se está inserido. De nada adianta ter todo bem material que se quer se seu Orí não sabe lidar com frustrações, se você está doente mentalmente e não sabe viver em serenidade.

Prosperidade não é ter dinheiro e acumular bens materiais, mas viver bem.

Por mais que a cultura ocidental nos tente convencer do contrário, nunca esqueça: prosperidade e felicidade humana é estar em boa companhia, é estar em sociedade. Não somos máquinas de produção e consumo. Somos vida e passamos por este aiyé para termos uma experiência de vida e sermos mais água nessa correnteza do legado dos que se foram e dos que virão.

E entre mais uma e outra xícara de café penso sobre os meses que se passaram e os que estão a vir.

P.S.: Não confunda nada disso com rejeitar dinheiro e viver pobre.

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Àbáyọ̀mí Rametj

Um ser em desenvolvimento, trilhando caminhos através da espiritualidade, da capoeira e dos algoritmos. O àṣẹ de Ògún guia a criação de tecnologias